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MEMORIAL “Câmara Cascudo”

O seu augusto nome tem prestigiado instituições de todo gênero humanístico.

20/10/2023 às 17h44 Atualizada em 21/10/2023 às 21h02
Por: adrovando
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 MEMORIAL “Câmara Cascudo”

Por Jurandyr Navarro

Vulto maior da nossa cultura histórica, foi, portanto, merecedor de homenagem digna, qual a prestada por órgão oficial, em conceder-lhe mais essa honraria. Historiador, sociólogo e etnólogo, competente docente, escritor dos mais renomados, dotado de ampla visão cultural, tendo sido o idealizador da nossa Academia de Letras, em mil novecentos e trinta e seis, intentando, assim, elevar a nossa Literatura, às alturas de suas potencialidades.

Daí, os preitos de gratidão a ele tributados  nos diversificados segmentos da nossa Cultura.

O seu augusto nome tem prestigiado instituições de todo gênero humanístico.

Desse modo, foi lembrado para o Memorial, criado a dez de fevereiro de mil novecentos e oitenta e sete, na gestão do acadêmico Paulo Macedo, na Fundação “José Augusto”, instituição cultural criada no governo Aluízio Alves.

Citado núcleo, foi instalado e tem desenvolvido edificante movimento artístico-cultural.

Consoante a Diretora do Memorial, por todos conhecida, nas hostes da nossa intelectualidade, Daliana Cascudo Roberti Leite, neta do homenageado, conhecida especialista na área museóloga, o Memorial em tela, está organizado com temas ligados ao folclore e à cultura popular. No seu edifício-sede, exibe-se exposições de artistas locais. Em seguida, a foto-biografia, constando painéis da vida do homenageado, parte de suas obras e fatos memoráveis; a chamada sala da Magia, focando o sincretismo religioso e suas vertentes; a cultura popular, a literatura de cordel, o bumba-meu-boi; estendendo-se à religiosidade do povo em relação a manifestações de fé, ex-votos, santos e oratórios, dando sequência ao atelier de arte plásticas,aulas de pintura e desenho.

No andar superior acha-se a exposição sobre a “História da Cidade do Natal”, baseada na obra do famoso historiador, a exibição da réplica do Marco de Touros, fazendo, também, referência ao Forte dos Reis Magos; a Revolução de mil oitocentos e dezessete que imortalizou a figura do Padre Miguelinho; a Invasão Holandesa; o Levante Comunista de mil novecentos e trinta e cinco e a participação da Cidade do Natal na Segunda Guerra Mundial.

Daliana Cascudo faz uma cronologia, em substância, do prédio do Memorial, que se segue, em resumo: imóvel edificado nos últimos decênios do século dezoito da nossa era, destinado à então Fazenda Real. No seguinte século, recebeu a denominação de Provedoria da Real Fazenda. A Carta Régia, datada de fevereiro de mil oitocentos e vinte, criou a Junta de Administração e Arrecadação, substituindo a antiga repartição pública citada. Quatro anos após a Independência, por texto legal, ela mudou de denominação, para Junta da Fazenda Publica da Província do Rio Grande do Norte.

Outros nomes lhes foram dados, em sequencia: Provedoria Real, Fazenda Real Erário e Provedoria, simplesmente.

No calendário de mil novecentos e vinte e dois, o seu funcionamento foi cognominado de Delegacia Fiscal, perdurando durante cerca de meio século. Depois, foi sede do Quartel General do Exército, da então Sétima Região Militar, até o ano de mil novecentos e setenta e sete.

Acrescenta, finalmente, a ilustrada Diretora, que o seu avô em linhas do seu livro “História da Cidade do Natal”, aduz ter André de Albuquerque sido aprisionado no antigo Palácio da Capitania.

Tais fatos históricos, sensibilizaram o então Presidente da nossa “Casa da Memória”, Enélio Petrovich, que tomou a iniciativa de constar em placa metálica, tais registros históricos, nos termos: “Neste local erguia-se a Provedoria da Real Fazenda, sede do Governo Republicano de mil oitocentos e dezessete. A homenagem do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte. Em dezenove de novembro de mil novecentos e sessenta e cinco”.

 O mencionado imóvel foi tombado pelo poder público estadual.

No espaço de tempo decorrido, desde a sua instalação, o Memorial, em causa, tem cumprido a sua finalidade precípua, qual seja, a de atender e ministrar ensinamentos à clientela que lhe bate à porta, seja ela local ou de visitantes interessados de outras regiões geográficas. O projeto, estabelecido por Daliana Cascudo, tem obedecido o definido no cronograma administrativo.

Câmara Cascudo teve existência rica em afazeres intelectuais. Inexcedível docente de História da Civilizações. Orador dos mais aplaudidos. Escritor memorialista e de criadora imaginação. Biógrafo admirável e notável pesquisador.

O genitor tinha um jornal: “A Imprensa”. Nascido inteligente, o filho, tinha-o à disposição.

Foi Diretor do periódico “A República”. Ingressou, ainda jovem, na Política partidária, tendo sido Deputado por um lápso de tempo.

Exerceu o cargo de Diretor do Atheneu, pertencendo ao seu corpo docente. Ingressou no professorado da nossa Universidade Federal, tendo sido o orador-oficial da sua instalação.

Prestigiou administrações municipais e estaduais na esfera cultural. Teve universal atividade em instituições culturais, as mais diversas. Aclamado “Historiador da Cidade”.

Incansável a sua existência.

O trabalho mental era por ele ocupado nas três fases do dia. Ao silêncio da noite alta, devotava às suas elucubrações, por saber que a solidão é a mãe da Sabedoria, no entender do autor da “Provinciales”, o imortal Pascal.

Tal atividade febril, mudando de personagem, a cada instante, ora sendo leitor, ora escritor, além de se debruçar em exaustivas pesquisas, parecia, nesse circunstancial viver, um espécie do ente mitológico Proteu, com seu ego sofrendo metamorfoses, as mais diversas, ao tratar assuntos multifários. Fazia, tudo isso, por ter um cérebro genial, de vários compartimentos.

De alma alegre, gostava da mocidade das escolas e dos amigos, com quem esticava a arte de conversar. Sempre cordial, a todos recebia com um sorriso nos lábios, uma interrogação ou uma interjeição brincalhonas.

Teve alguns amigos próximos: Oswaldo de Souza, Nestor Lima, Sylvio Pedroza, Diógenes da Cunha Lima, dentre eles. Zila Mamede foi a pesquisadora da sua obra. Sua cultura continua sendo por muitos estudada e comentada. Vicente Serejo, ao meu enxergar, é o seu maior conhecedor.

A sua cultura refulgia sem provocar labaredas crepitantes, porém, espargindo a suavidade lunar das madrugadas natalenses, a sua estrela, sempre cintilante no firmamento do humanismo.

Durante o mandato que exerci na Presidência do Instituto Histórico e Geográfico, tive o grato ensejo de prestar-lhe tributo de justiça, homenageando-o, dando o seu nome ao Salão Nobre daquela Instituição, em placa fixada à posteridade.

Foi merecedor da homenagem a sí prestada!

Os Memoriais preservam a história dos povos, por ser ela “um tesouro do entendimento humano”, no dizer de Plutarco.

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