Por Júlia Facca
Estagiária no Baguete Diário
A Polícia Federal (PF) prendeu nesta sexta-feira, 20, dois servidores da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) por terem feito uso inapropriado durante o governo Jair Bolsonaro do FirstMile, um programa desenvolvido pela israelense Cognyte voltado para a localização em tempo real de celulares.
Paralelamente ao uso indevido da solução, Rodrigo Colli e Eduardo Yzycky são acusados de, diante da possibilidade de demissão por outra conduta imprópria, terem usado o conhecimento sobre a ferramenta para fins coercitivos a fim de evitar a exoneração.
Segundo o Globo, Alexandre Moraes, ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), também afastou outros cinco funcionários, entre eles dois diretores da Abin.
Durante a operação, a PF cumpriu ainda 25 mandados de busca e apreensão nos estados de São Paulo, Santa Catarina, Paraná e Goiás e no Distrito Federal.
No endereço de Paulo Maurício Fortunato Pinto, atual número 3 da Abin, foi encontrada uma quantia de US$ 171,8 mil (R$ 872 mil) de origem ainda desconhecida.
Outro investigado é Caio Cesar dos Santos Cruz, filho de Carlos Alberto Santos Cruz, general da reserva e ex-ministro de Bolsonaro, apontado como representante da empresa que vendeu o sistema para a Abin.
Na sede da Abin, foram recolhidos computadores dos suspeitos e as máquinas usadas por Fortunato Pinto.
Segundo relata o Globo, os investigados poderão responder por crimes como invasão de dispositivo informático alheio, organização criminosa e interceptação de comunicações telefônicas de informática sem autorização judicial ou com objetivos não autorizados pela lei.
O caso foi exposto pelo Globo em março deste ano, quando o jornal revelou que a tecnologia foi usada para monitorar os passos e acessar o histórico de deslocamentos, criando alertas de movimentações para ao menos 2,2 mil políticos, jornalistas, advogados e adversários do antigo governo ao longo de 12 meses cada.
Para usar o programa, bastava digitar o número de telefone do alvo na ferramenta e acompanhá-lo em um mapa por meio da troca de informações entre os celulares e antenas para identificar o paradeiro do dono do dispositivo.
Até onde se tem conhecimento, o software foi usado até meados de 2021 sem controle algum, o que gerava uma brecha para acessos indevidos sem explicações oficiais e sem necessidade de registros. Ao todo, o sistema foi acionado mais de 30 mil vezes.
De acordo com o Globo, o FirstMile foi comprado em 2018, ainda durante o governo Michel Temer, pelo valor de R$ 5,7 milhões, com dispensa de licitação sob a justificativa de que se tratava de um caso de segurança de estado.
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