Por: Carlos Roberto de Miranda Gomes
Há muito tempo frequento as confrarias dos cafés e livrarias de Natal e nesta segunda-feira 04 de novembro estava na Confraria Dom Inácio, do Café Avenida (defronte ao antigo Colégio da Conceição), juntamente com Edson Gutemberg, Satoru, Bob Furtado, Manoel Onofre Júnior e Clemente José, quando tratamos de assuntos pertinentes ao mundo da arte – cinema, televisão, discos, cds, dvds e rádio.
No meio da conversa, tocamos no assunto dos cantores de rádio e, entre outros, saiu o nome de Agnaldo Rayol, do que tenho algum conhecimento, pois fui seu colega do cast artístico da Rádio Poti nos anos 50, aqui em Natal, onde ele morou por alguns anos, na rua Seridó, vizinho a um local onde hoje é a loja do Dr. Scholl.
Entre os comentários sobre Agnaldo, ao longe ouvimos a voz de Mônica, a dona do estabelecimento, que ao ouvir o nome de Agnaldo informou: “falecido”. Eu logo retruquei – não, o falecido foi o Timóteo e ela esclarece em seguida: foi o Rayol mesmo, hoje pela madrugada.
Ficamos nos entreolhando e, confesso, senti uma lágrima incontida emanada entre uma multidão de lembranças – do grande cantor, do eventual colega de rádio, do programa que fazíamos todas as semanas à noite “Almanaquinho Seta”, juntamente com Selma Rayol; dos programas de auditório de Genar Wanderley (Domingo Alegre) e Vesperal dos Brotinhos, nos sábados, comandado por Luís Cordeiro. Saí ligeiro alegando um compromisso e fiquei deprimido o resto do dia de ontem e até agora, quando estará sendo velado na volta à Casa do Pai.
Para corrigir algumas estórias – nunca disputei com Agnaldo concursos de cantores mirins, pois ele não se propunha a isso, eis que já trazia algum cabedal de artista desde os programas no Rio de Janeiro, seu lugar de nascimento. Ele era filho de um cidadão militar dos Fuzileiros Navais, Senhor Agnello Rayol que foi transferido para servir em Natal e aqui morou com sua esposa Rosa Coniglio, de origem italiana, com os filhos Marly, Zilma, Selma, Reynaldo (destes só está viva Selma) e Ronaldo (este nasceu em Natal) – todos foram artistas.
Eu fui vencedor do concurso Vic-Maltema no ano de 1950 o que permitiu que fosse contratado para a Rádio Poti onde permaneci por cinco anos e conheci Agnaldo.
Não tínhamos maior contato, pois ele era muito protegido pelas irmãs Marly e Zilma e as suas apresentações eram preparadas por Ernani Lopes, esposo de Marly, enquanto eu recebia a programação artística geral de Sebastião Carvalho, com direito de participar dos projetos da Sociedade Artística Estudantil-SAE, então comandada por Fernando Cascudo, Jorge Ivan Cascudo Rodrigues e Francisco Gomes de Sales e contando com artistas do naipe do Trio Yrakitan, Haroldo e Hianto de Almeida, Pedro e Paulo Dieb e outros. Agnaldo liderava o setor artístico do Colégio Marista de Natal.
Os meus colegas mais íntimos eram Odúlio Botelho e Edmilson Avelino (este falecido) e mais José Filho (não sei o seu destino), Elino Julião (falecido), Laudicéia Paiva (também não sei a sua trajetória).
Retornando a Agnaldo, registro que sempre acompanhei a sua carreira, pois seu repertório me agradava muito, em especial as músicas italianas, que já curtia com o meu sogro Rocco Rosso, italiano da Província de Salerno.
Quando fiz uma temporada em Fortaleza, cantando com a orquestra de Mozart Brandão e por vezes acompanhado por Evaldo Gouveia, fiz uma gravação que consegui recuperar em CD, graças à indicação do Dr. Ernani Rosado, na pessoa do técnico Roberto Acar, no Rio de Janeiro, onde canto com o Trio Yrakitan, peça inédita para os fãs do famoso trio, que nem mesmo tinha conhecimento da gravação. Este CD entreguei uma cópia para Leide Câmara, Depois, gravei outro disco no aniversário da Rádio Poti, onde cantei duas músicas: Incantesimo (em italiano), que foi também do repertório de Agnaldo e Novillero, em espanhol.
Dessa temporada no Ceará, recebi convite de um senhor Jones, que era da fábrica Rosemblitz (Mocambo) para uma temporada em Recife, na Rádio Tamandaré. Na ocasião o meu pai não consentiu que eu cumprisse esse compromisso e então o meu empresário convidou Agnaldo para a tarefa, que cumpriu com sucesso, pois em Pernambuco já brilhava um cantor mirim chamado Paulo Molin, que posteriormente, já adolescente, fez uma participação, com Agnaldo, no filme de Mazzaropi “Zé do Periquito”. Nesse momento morria a minha carreira artística e explodia a de Agnaldo, graças a Deus.
Voltamos a nos encontrar esporadicamente em shows dele em Natal, mas ele no palco e eu na plateia. Nunca ousei me aproximar para lembrar o tempo da Poti.
Coisas da vida que guardo com carinho, agradecendo a Deus pela conservação da minha memória, que relembra fatos, mas aguça o sofrimento.
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