Por Paulo Góis - Psicólogo
Não fui criado entre livros — a escassez de recursos não permitia —, mas entre palavras. A oralidade teve um papel preponderante na minha formação. Venho de um Brasil profundo, onde os saberes ancestrais moldaram minhas vivências. Foi a partir da sabedoria do senso comum que trilhei o caminho até o conhecimento científico.
Hoje, ouso escrever sobre o vazio — um conceito subjetivo e complexo, comumente associado a uma sensação de falta interna, à ausência de sentido ou à desconexão consigo mesmo, com os outros ou com o mundo.
Entre os diferentes olhares da psicologia, a Psicanálise oferece uma primeira chave de leitura: o vazio pode estar relacionado a uma ausência simbólica, frequentemente originada por experiências precoces de perda.
Já na abordagem humanista, que prioriza a busca por sentido e a autorrealização, o vazio é compreendido como uma crise de identidade ou de propósito, em que o indivíduo se vê sem direção clara na vida.
Do ponto de vista da Terapia Cognitivo-Comportamental — linha à qual pertenço —, a leitura é distinta: compreendo o vazio como resultado de pensamentos automáticos negativos e de esquemas desadaptativos, frequentemente associados a crenças de inutilidade, desvalia ou isolamento. Essa sensação pode manifestar-se em quadros de depressão — como uma perda de interesse e prazer — ou, ainda, em transtornos de personalidade, como o borderline, no qual o sentimento crônico de vazio é uma característica marcante.
De modo geral, podemos compreender o vazio como uma experiência subjetiva de ausência — de sentido, conexão, afeto ou identidade —, que pode ter origens emocionais, existenciais ou relacionais. Sentir-se assim não é incomum, e reconhecer esse estado já é um passo importante. Caso você esteja vivenciando essa sensação de vazio de forma persistente, saiba que não precisa enfrentá-la sozinho. Buscar ajuda profissional pode ser fundamental para compreender suas raízes e construir novos caminhos de significado e bem-estar.
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