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Identidade cultural e resistência, um olhar sobre a tradição e os desafios contemporâneos.

O forró vai além de um simples ritmo: é a expressão mais autêntica da nossa identidade cultural.

16/06/2025 às 11h39 Atualizada em 16/06/2025 às 11h50
Por: adrovando Fonte: Paulo Góis
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foto: Adrovando Claro
foto: Adrovando Claro

Cá estou, preparando minha playlist para o mês junino — um ritual que reafirma a riqueza da música nordestina. No meu acervo de raridades, não faltam os clássicos indispensáveis: Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro, Dominguinhos, Marinês, Genival Lacerda, Trio Nordestino, Os Três do Nordeste, Elino Julião, Assisão e Sivuca. Além deles, destaco também os grandes nomes da música nordestina contemporânea, como Santana, Flávio José, Flávio Leandro, Maciel Melo, Petrúcio Amorim, Luis Fidelis, Waldonys, Mestrinho, Mariana Aydar, Dorgival Dantas, Accioly Neto e Jorge de Altinho, que continuam a alimentar essa tradição viva.

O forró vai além de um simples ritmo: é a expressão mais autêntica da nossa identidade cultural. Em sua essência, carrega as marcas do Nordeste verdadeiro, reveladas tanto na poesia das letras quanto na cadência envolvente das melodias. Suas canções são retratos sensíveis da paisagem nordestina — os sertões áridos, os grotões escondidos, os carnaubais, o pôr do sol dourado nas estradas de barro —, mas, acima de tudo, refletem a alma do povo nordestino, forte, resiliente e apaixonada.

Na sonoridade do forró, percebemos a influência moura, trazida pelos colonizadores portugueses marcados por séculos de cultura árabe na Península Ibérica. Esse legado aparece no toque arrastado da sanfona, no lamento das vozes e nas melodias ornadas por arabescos — enfeites musicais sinuosos que se entrelaçam com ritmos sincopados, batidas ancestrais e cadências capazes de embalar tanto as dores quanto os amores de um povo. O forró não apenas narra as lutas e as saudades, mas celebra a vida com intensidade — porque, por aqui, até a dor vira dança.

No entanto, essa força cultural do forró tem sido ameaçada. A lógica mercadológica da indústria fonográfica tem imposto, nos últimos anos, sonoridades que se afastam das nossas raízes. O que hoje é vendido como “música nordestina” muitas vezes pouco dialoga com a tradição verdadeira. Agrava essa situação o fato de que as programações dos festejos juninos — momentos em que o forró deveria ser exaltado em sua plenitude — têm sido tomadas por artistas do eixo Centro-Sul, impulsionados por investimentos milionários do agronegócio e de grandes conglomerados empresariais. Essa descaracterização empobrece culturalmente nossas festas e ameaça apagar da memória coletiva o que temos de mais genuíno: a música que embala nossa história, nossos afetos e nossa resistência.

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